"Ivo, tem cuidado que aquilo lá dentro é uma máfia... "
É natural que com avisos destes entremos na indústria dos cruzeiros com um pé atrás e a desconfiar de tudo e todos.... e com razão... ouvem-se histórias pouco agradáveis de manipulação alheia ou mesmo ofensas à integridade por ordem de inveja ou competição a bordo. Quem nos avisa zela por nós e no final do dia sabemos agradecer.
Contudo, fui abençoado com uma experiência não tão marcante. Existe máfia sim, essa gerida por nacionalidades ou etnias maioritárias e/ou por departamentos cujo único poder que têm é o manuseamento deprodutos mais desejados que obtidos pelos restantes tripulantes. Como qualquer espécie de máfia na história da humanidade, acrescente-se
Mas aqui as coisas são mais suaves... damos por nós a derretermo-nos por um pedaço de comida decente ou por um bolo com pepitas de chocolate. Por água que não seja da torneira ou um chá a meio da noite. E essa é a moeda de troca a bordo na grande maioria dos casos. Comida.
É deprimente num plano maior de coisas. Mas no presente e imediato é deslumbrante a felicidade que se pode gerar por trazermos a um amigo um hamburguer de frango escondido no bolso, meio amachucado (para que o volume não se faça denunciar), morno, ainda que a dúvida persista se é da chapa ou do calor humano.
Ou o prazer de surpreender um grupo de amigos prontos com vinho tinto, que esperam impacientemente por quatro ou cinco bolos e uns pedaços de queijo enfiados num par de luvas de borracha. Luvas essas que por vezes admitem ser transportadas em zonas menos apetitosas.
Acreditem, é uma festa, é celebrada e é o suficiente para virar um dia do avesso e fazê-lo bom no final de contas.
É assim que a minha experiência mafiosa se faz sentir a bordo. Uma constante troca de favores que é levada tão leve e curriqueiramente que faz sobressair o simples favor sem esperar nada em troca. Essa é uma prática pouco em voga neste navio... mas sabe pelo mundo quando acontece.
Para vos dar uma ideia, não sei do que era capaz neste momento por uma lata de atum. E sentirme-ia um Rei se tivesse em meu poder uma cabeça de alhos....
Abreijos, já não falta tudo!