sábado, 26 de julho de 2014

Troll Fjord




O navio onde me encontro embarcado tem 6 bares, 4 restaurantes, piscina, 5 jacuzzis, um putt com 8 buracos e uma zona de swing. ( Golf entenda-se).

No entanto, a atracção principal, especialmente em cruzeiros tão cénicos quanto este, é o observation bar. 

Trata-se de um bar no 10º deck, parcialmente coberto a vidro e estrategicamente colocado na proa. 

Alberga eventos como o tea time e o cocktail hour, especialidades pré-jantar, todas com a mesma atracção. 180º de vista sobre os fjordes Noruegueses, uma dezena ou duas de graus a mais na varanda exterior.

Oferece um tipo e qualidade de serviço difíceis de atingir noutros bares. Tanto pela exigência do bartender como pela disposição circular da sala. 

Tudo isto perdeu significância em Troll Fjord.

Troll Fjord é um beco. Sem tirar nem pôr. É uma das extremidades do Fjord original e não oferece saída ou escapatória. Ainda assim conseguiu concentrar quase a totalidade dos passageiros neste pequeno e (antes) sossegado bar. 

O poder deste ponto no mapa é ser, possivelmente, o beco mais bonito do mundo. 

Bonito ao ponto de não vo-lo querer descrever. Há uma semana e meia que tento encontrar palavras, sem sucesso. Merece por tudo neste munto ser mencionado, mas qualquer descrição seria desonrosa. 

Só é possível entrar e consequentemente inverter marcha em Troll Fjord atravessando um estreito que não faz senão justiça ao nome. Quando digo estreito, digo que havia rocha visível acima da linha de água, a 10 metros de cada lado da quilha do navio. Somos o maior navio do mundo a ter o privilégio de atravessar o estreito.

Apertado o suficiente para uma explosão de aplausos ao comandante.

Único o suficiente para que todos tenhamos parado de trabalhar para apreciar o momento. 

Bonito o suficiente para que tenha vertido uma lágrima. 





Muito vosso, 
Abreijos.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Flam - Fjords Noruegueses



É a paisagem mais cénica que alguma vez concebi. Talvez um pouco mais ainda. Tudo é íngreme, tudo é fresco, tudo é puro, azul profundo ou salpicado de branco. 

Há inspiração onde quer que se olhe. Nos recortes a gelo nas massas de rocha circundante, no isolamento e calma a que a paisagem obriga aos locais.

Gente simples e de olhar realizado. O tipo de olhar que a falta de pressa nos trás.

Não me tem sido possível pisar todos os portos. Ou nenhum à excepção do inicial , Flam. É de notar que deveriam existir dois pontinhos acima do A em Flam... mas não os sei lá pôr. 

Flam destaca-se pelo isolamento mosntruoso de que sofre. É cristalino e de encostas íngremes, cortadas apenas por caminhos pedestres.  A vila é servida de uma linha férrea que serve de atracção turística principal. Além disso só trilhos para caminhar/escalar. Informação desnecessária uma vez que se note a massividade das pernas de quem cá vive. A ausência de terreno plano faz-se notar. 

Flam destaca-se também por ser um exemplo de equilíbrio entre a exploração não excessiva do homem, num terreno virgem e aparentemente imaculado.

E sinto por estar aqui que estamos a esbardalhar por completo a balança. 

Aparentemente não sou o único. 

Aproveito para lamentar a qualidade das fotografias mas têm sido tiradas com o meu telemóvel emprestadado. A única fonte de imagem possível. 

P.S -> De notar que na 6ª fotografia estão colocados no cume do monte cubos brancos. Cada um com cerca de 2m de largo. Cada um uma letra... e na impossibilidade de fazer zoom, traduzo: NO BIG SHIPS









segunda-feira, 14 de julho de 2014

Graduation Day!!!


Ora então diz-se que acabei a academia ontem. 

Fui chamado ao escritório da formadora, onde já estava à minha espera a Beverage Manager, Daniela. 

Esta pessoa consegue ser um contraste ineteressante de gentileza e simpatia com uma capacidade técnica e teórica impresionantes. Consta que foi a primeira mulher na Seabourn a chegar ao cargo que agora ocupa. E não corre o mínimo rumor de não ter sido merecido. No alto do seu metro e noventa germânico, desalinha o cabelo artisticamente e uma forma tudo menos corporate. Dá-lhe um ar se Shane da série L Word. Partilha também da mesma orientação.

Esta reunião tinha vários pontos a abordar:

1. Se passaria ou não na Academia. Verdade seja proclamada, não contava com outra coisa. Aos que me conhecem, estranhariam que colocasse sequer como hipótese toda e qualquer alternativa a passar. 

2. Em passando, onde começaria a exercer, sendo que a companhia tem 5 navios activos. 

3. A avaliação final. Pontos bons e a melhorar. 


Começam-se com as perguntas costumeiras " como achas que te saíste no teste final?", " qual achas que foi a tua avaliação?" " Que pontos achas que tens que melhorar mais?". Nada que fuja aos parâmetros de uma entrevista de trabalho minimamente decente. 

Passei o turno à minha chefe. Foram os 10 dos minutos mais orgulhosos e inchados que tive na minha vida profissional até agora. 

Nâo vou acrescentar pormenores, odeio ser arrogante por escrito.  Mas passei e fico no mesmo navio, tal como queria. 

Segue-se uma pequena cerimónia com o Capitão, dois canapés e um copo de champagne.




Há vidas piores. ; ) 

Abreijos

domingo, 13 de julho de 2014

Tallin - Estónia


Este vai ser um texto curto.  A visita foi de médico. 

Ou se agiota neste caso, uma vez que foi para enviar dinheiro urgente para minha conta em Portugal.

Uma hora e meia de correia deu para descobrir uma paisagem geral verde, de arquitectura diversa e difusa, sem linha de conduta aparente. Excepto o laço comum de edifícios baixos. 

Remata-se uma mercado de artesanato caricato mas caracteristicamente colocado no porto para acesso turístico. 

Bons ímans.

Abreijos

terça-feira, 8 de julho de 2014

Bart The Nicest Guy


Apresento-vos o Bart. 



E peço desculpa pela foto.  Ele estava um pouco excitado com o jogo da Holanda ( país que o viu nascer) com a Costa Rica. 

Sei que é difícil de identificar mas distingue-se a léguas a simpatia que ele transpira. O estilo de pessoa que consegue ser acordado às 5 da manhã com a festa na cabine do lado, e ainda pedir desculpa. 

Não é um exemplo prático. 

 Aparte da formadora, foi a pessoa que melhor nos recebeu a bordo. O único a "chegar-se à frente", a estender-nos a mão e apresentar-se. A cumprir-se, a ser o que não consegue ser senão..... simpático. 

Foi reconhecido no cruzeiro passado no navio inteiro por ter providenciado um momento especial a uma família que não lhe era nada. Que tinha apenas em comum o local geográfico. Um qualquer porto e um desejo especial que o Bart concretizou. E que não contou a ninguém. 

E como boa e pura alma que tem, é um excelente alvo para tudo o que este mundo possa ter de cruel. 

Parou em St. Petersburg para conhecer a cidade. Apanhou um taxi e em menos de nada estava na vila de nenhures. 

Duas opções: 

- Sair ali e nunca dar com o navio; 
- Dar todo o dinheiro que tinha e ainda assim não ter garantia alguma ( senão a palavra do taxista) de que voltaria são e salvo ao navio. 

Felizmente para todos nós, o taxista foi honesto o suficiente ( conceito antagónico eu sei) para cumprir a sua parte do acordo.

O Bart já não gosta da Rússia.

"Mother Russia"


Faz parte do nosso itinerário e é considerado o Porto principal dos últimos 4 cruzeiros. São Petersburgo é uma cidade grande, salpicada de gruas e das abóbadas douradas das igrejas Ortodoxas. Tudo em fundo cinzento ou vermelho tijolo, claramente fabril e industrial. 

Nos guias que recebemos a bordo somos avisados repetidamente contra roubos e muitos de nós não somos sequer autorizados a pisar chão Russo. Nas nacionalidades excluídas está quase toda a União Europeia, sem esquecer um par de aliados. 

O tempo aqui parece não correr da mesma forma. E não se deve ao facto do sol só se pôr 2  ou 3 horas por dia. Tudo cheira a calma em demasia. Como se alguma coisa estivesse a ser preparada em segredo. E por mais que tente não consigo sacudir essa sensação. Não depois de ver horas e horas de milhas náuticas percorridas onde a única coisa possível de se avistar é produção, produção e destruição. Quilómetros de ferro desfeito e seleccionado, desmantelamentos de submarinos, navios de guerra e mercantis, de certo multiplicando em peso por 100 o poder de fogo da nossa singela armada Portuguesa. E ainda assim, isto é o que deixam que nós, navios turísticos vejamos. 

Convém que se recorde que há pouco tempo foi pedido/ordenado pelo governo de Putin que todos os Judeus se devem registar como tal. Soa familiar?

Na verdade algumas medidas extremistas têm sido postas em prática. Passo a citar (traduzido) o guia de porto distrubuído aos clientes e tripulantes: 

"A Rússia aprovou recentemente uma lei proibindo determinados tipos de comportamento incluindo o hasteamento de bandeias com as cores do arco-íris, procissões de orgulho gay e demonstrações conspícuas ou suspeitas de afecto pelo mesmo sexo. Possíveis punições incluem tempo de cadeia e/ou exclusão do país."

Este panorama é agravado por um pormenor importante. No primeiro dia em que chegámos à cidade foi encontrado um cadáver a flutuar junto ao navio. Deixa assim uma aura pouco motivante à saída, mesmo para quem pode. 

Não tenho pressa. 

Tenho-vos comigo e por enquanto não preciso de mais nada = ) 

Abreijos Russos.